O COVID-19 reorganizou as nossas vidas, as nossas interações, as nossas viagens, o nosso trabalho, tudo de uma maneira que nos deixou ansiosos, medrosos, inseguros, preocupados. Apropriadamente, não há nada desordenado nisso. O que é desordenado é negar que algo está acontecendo que mereça a nossa ansiedade.
Estamos diante de algo que está além do nosso entendimento ou controle. Virar as costas ao problema não vai nos ajudar. Devemos sim, encarar diretamente a situação que se enfrenta, abraçando a realidade que a ansiedade sentida provoca incerteza, e aprender a lidar com tudo isso.
Estas práticas podem nos ajudar a tomar decisões que minimizem o efeito da ansiedade. Por exemplo, diminuir o impulso de entrar em pânico e nos permitir encontrar as maneiras mais simples de manter um bom senso pessoal (todos nós tínhamos uma mãe cuja voz ainda podemos ouvir na nossa cabeça: “Lava as mãos!”).
Tudo bem ter medo. Se não fosse por nosso medo, viveríamos de forma imprudente
Temos que admitir uma coisa: estamos ansiosos. Os nossos amigos estão ansiosos. As nossas comunidades estão ansiosas. Quase todas as pessoas no mundo estão ansiosas. E quando estamos ansiosos, fazemos muitas coisas para gerenciar e evitar essa ansiedade.
Mas a maioria dos comportamentos que adotamos para sentir algum alívio no momento tende a não ser muito útil a longo prazo. Alguns de nós nos envolvemos demais nos eventos atuais, nos concentrando demais em todos os detalhes do que nos faz sentir ansiosos (como a atual pandemia de coronavírus).
Certamente não existe uma maneira que seja certa ou errada de lidar com o problema, mas na maioria das circunstâncias, se permitirmos que a nossa ansiedade assuma o foco, nos concentrando demais no problema ou evitando completamente, isso não tenderá a nos ajudar a lidar com a situação de incerteza.
Tudo bem estar ansioso. Se não fosse a nossa ansiedade sentida, não tomaríamos as precauções necessárias.
Muitos de nós sofrem com ansiedade crônica, portanto, quando a nossa comunidade é alertada sobre uma possível ameaça, isso não ajuda muito. Isso pode nos fazer sentir que não seremos capazes de suportar tanta ansiedade. Situações como essa podem definir a nossa resposta natural à ansiedade em excesso.
Podemos ser confrontados com uma aparência alarmante do “e se…”, nos conduzindo a noites sem dormir, aumentando ou diminuindo nosso apetite, agressividade, indecisão, uma necessidade constante de limpeza ou uma compulsão de seguir as massas sem pensar. Todos nós temos as nossas próprias maneiras de lidar quando estamos ansiosos, nem sempre as melhores.
É hora de saber gerir a nós mesmos e os nossos sentimentos de ansiedade e escolher uma resposta que nos possa ser mais útil.
Em tempos de incerteza somos tentados a ter medo, nos desesperar, pensar que o pior está por vir. E tudo bem. É natural sentir isso. No entanto, é importante que se lembre de que está ao seu alcance apoiar a si mesmo durante um período de doença e medo. Como muitos de nós sabemos, não há como evitar as dificuldades da vida que criam sofrimento. Agora é a hora de focarmos as nossas energias em aliviar o nosso próprio sofrimento.
Obtenha uma perspectiva da própria ansiedade:
É útil lembrar o que é ansiedade, para que você possa descobrir como deseja se relacionar com ela. A ansiedade é uma resposta emocional orientada para o futuro a uma ameaça percebida (real ou imaginada). Se você está preocupado com a exposição ao vírus, com a disseminação ou com o desenvolvimento de sintomas, quando acredita que algo ruim acontecerá e duvida da sua capacidade de lidar com isso, provavelmente irá se sentir ansioso.
Lembre-se de que a ansiedade é uma emoção normal. É algo que todos experimentamos. Não temos muito controle sobre isso, mas temos opções diferentes para responder a isso. E embora a ansiedade possa parecer realmente desconfortável, a emoção em si é inofensiva.
Não há problema em perder todo o senso de certeza:
Ninguém sabe o que acontecerá a seguir. Baseamos o futuro em algumas previsões de ansiedade que não são úteis ou verdadeiras. É difícil manter a estabilidade emocional quando a nossa vida antes “previsível” não parece tão previsível de repente. No entanto, não é que tenhamos perdido o nosso senso de certeza. Perdemos a nossa ilusão disso.
Nada nos é assegurado. Não há problema em sentir-se desconfortável nesse clima. Tente perceber: você está procurando a certeza em tempos de incerteza? Isso pode ser prejudicial neste momento de pandemia (devido ao Covid-19). Pode ser melhor tentar conviver com o desconhecido em relação à situação futura de saúde pública.
No entanto, se mantiver algumas das suas rotinas, e restringir a sua certeza ao que depende dos seus comportamentos e formas saudáveis de lidar com o seu dia a dia, certamente irá ficar mais esperançado no enfrentamento de todo este caos social.
Portanto, tente encontrar alguma previsibilidade onde puder. Talvez seja reconfortante tomar o mesmo café da manhã que você costuma tomar, ou ter a mesma noite de sexta-feira em família, ou vestir-se profissionalmente como costuma fazer, mesmo que esteja trabalhando no seu quarto. Pequenos aspectos que assegurem a nossa rotina podem nos ajudar a nos sentir mais calmos.
Não deixe os seus pensamentos catastróficos penetrarem na sua mente como verdade:
Em tempos incertos, o cérebro parece preencher lacunas e conectar pontos. O problema é que isso nos faz criar atalhos dramáticos. E pode distorcer drasticamente as lentes através das quais vemos o mundo, a ponto de começarmos a aceitar o pensamento desnecessariamente catastrófico como totalmente preciso e verdadeiro.
Se esforce para se tornar um gentil observador dos seus pensamentos. Não assuma automaticamente que eles são verdadeiros. Saiba que existem todos os tipos de preconceitos que nos fazem aceitar mais informações negativas como confiáveis, mesmo quando não são.
Também podemos cair no pensamento de tudo ou nada que acentua a negatividade de uma situação ou viés de confirmação quando procuramos apenas as informações que se alinham com os nossos piores medos, descartando ou ignorando informações que realmente nos ajudariam a acalmar.
Defina limites para a mídia e escolha apenas fontes confiáveis:
É tão difícil encontrar o ponto ideal entre a preparação e o pânico, entre ser informado e refletir sobre as mesmas más notícias repetidas vezes. Sempre haverá mais uma fonte para ler, mais uma atualização para percorrer. Como você se protegerá de cair no abismo da sobrecarga de informações?
Por exemplo, você pode optar por dedicar apenas dez minutos de notícias online no dia ou decidir não levar o seu celular para a cama. Pode decidir ocultar as pessoas no seu feed de mídia social que tendem a postar material de fontes duvidosas. Defina os seus próprios limites, eles são mais importantes do que nunca para evitar aumentar a sua carga emocional negativa.
Procure a beleza nas coisas e seja grato sempre que possível:
Eu sei que é difícil ser “grato” quando o mundo parece assustador. Mas ainda existem momentos de beleza, e se você puder mesmo que por breves momentos ficar no aqui e agora para observá-los realmente, dará a si mesmo oportunidade de melhorar o humor e bem-estar. Talvez seja uma florzinha brotando no pátio, lembrando que o mundo natural sempre florescerá e trará novas esperanças.
Seja a apreciação dos profissionais de saúde e a admiração e gratidão pela sua bravura e compaixão. Seja ouvir com atenção uma música que possa trazer uma sensação de tranquilidade e admiração.
Mesmo pequenos momentos importam. E quanto mais você os encontrar, mais ajudará a nutrir a sua mente e o seu coração, que estão sendo testados hoje e precisam de todo o amor que puderem receber.
Esta postagem não substitui a psicoterapia.
Procure um profissional da área para ajudá-lo.
Ivana Siqueira
Psicóloga Clínica
CRP 05|40028
Rio de Janeiro - RJ
Atendimento presencial e online
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